segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O tempo, meu amigo.

Quantas vezes eu já ouvi falar em "tempo de Deus", "espera", "purificação"... Nomes, nomenclaturas, falas, dizeres. Conceitos para incentivar a abertura do meu coração diante do processo necessário - por tantas vezes inexplicado, sem o selo de validade - para que as construções dEle se fizessem reais no meu canteiro.
Tantas vezes acolhi o "tempo de Deus" como aquele que é alheio ao meu, distante, sempre diferente e, de tão distante, até prejudicial a mim.
Minha vida e o "tempo de Deus". O tempo de Deus, sem as aspas, e o meu tempo. O tempo dEle é o meu tempo. Não o tempo que escolhi para viver, o tempo que calculei, planejei, medi. Não. O tempo dEle é o tempo mais oportuno para mim. O tempo dEle, e meu também, é fator expressivo na construção da eternidade em mim. É o nosso tempo, o meu e o de Deus, porque Ele quer assim. É o meu tempo, porque este é submetido ao Amor dEle. Bendito tempo que proporciona a cura das feridas, o mapeamento do ambiente, a preparação da massa, a seleção dos tijolos.
O tempo que permite o olhar sobre as antigas construções, o tempo que - na destruição do velho - prepara, às vezes sem a minha permissão ou conhecimento, para o novo. O tempo que sugere a espera, espera que enlarguece, faz parar, faz partir, faz chorar e faz sorrir. A espera que nutre a esperança. A espera que movimenta meus passos em direção ao Mestre das Obras. Afinal, a Obra é do Alvener, mas é desejo dEle que eu suje as mãos, os pés e finalmente, o corpo todo. Não associando o verbo sujar a uma conotação negativa, mas sujar-se, envolver-se, tornar-me parte, uma coisa só. Ele quis assim, Ele quer assim. Quis tantas vezes que eu mesma ferisse a rocha para lá construir o que Lhe aprouvesse. Outras vezes, sob a ação do tempo, Ele mesmo, em ato de profundo amor, tornou mais profunda a fenda da rocha. Rocha tão bela, tão rude, tão fecunda. Rocha que recebe vida, a minha vida. Rocha que guarda exigências, sinais, profecias, respostas.

Sim, Senhor... O Teu tempo é o tempo meu. Tempo que me ajuda a olhar diferente, a amar diferente, a esperar diferente, a esperar por Ti e em Ti, somente. Neste tempo, neste amor, eu abraço as exigências e bênçãos que o Teu amor deseja nos dar.
Porque Tu és sempre sim. Mais uma vez, obrigada, Senhor.


Até as próximas letras.
Shalom!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Espera.

"Sem dúvida, aquilo que tu desejas não o vês ainda, mas o desejo te torna capaz, quando vier aquilo que deves ver, de ser saciado. Suponhamos que tu queiras encher algum objeto em forma de bolso e conheces a superabundância daquilo que está para receber; tu alargas aquele bolso, saco, odre ou qualquer outro objeto do gênero; conheces quão grande é aquilo que tu queres pôr nele; com algum esforço, aumentas a sua capacidade. Da mesma forma Deus, fazendo esperar, alarga o desejo; fazendo desejar e engrandecendo a alma, torna-a capaz de receber. Então desejemos, irmãos meus, porque deveremos ser saciados."
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Santo Agostinho, In: Epistolam Joannis ad Parthos, PL XXXV, IV, 6.