domingo, 20 de maio de 2012

Adoção: pais e mães por escolha de Deus

Foto (atual) dos filhos de Eliz e Roque.
Já com a presença de Marcus Vinícus,
Matheus Henrique e o flamenguista mais jovem: Bento.
(Esta reportagem foi publicada em agosto de 2011 na Revista Brasília Católica)

Adoção: pais e mães por escolha de Deus
Por Narlla Sales

O amor, quando é Amor, “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...”. É o que registra São Paulo na I Carta aos Coríntios. Há quem diga ainda, sobre o amor dos pais, que ele é antes adotivo do que biológico. “Muitas dúvidas foram dissipadas, muitos mitos e falsas expectativas foram abandonados. Estávamos ‘grávidos’ e queríamos isto.” testemunha Elizângela Roque sobre o processo de adoção que ela e o esposo, Sílvio Roque, estão vivendo. Segundo dados da Vara de Infância no Distrito Federal, são mais de 300 famílias habilitadas para a adoção, enquanto a quantidade de crianças à espera de um novo lar não passa de 170. No Brasil, os números representam melhor a realidade da adoção. São 31 mil famílias para pouco mais de 4 mil crianças.

Segundo o psicólogo-chefe do setor de adoção da Vara de Infância do Distrito Federal, Walter Gomes, o grande problema que faz com que as pessoas passem anos nas filas de adoção está no perfil escolhido. “Das 382 famílias habilitadas, 361 querem uma criança de 0 a 2 anos, branca, saudável e sem irmãos”, afirma. Walter ressalta ainda que, no DF, não há nenhuma criança neste perfil, o que deixa a fila mais estática ainda. 

Para o casal Cristiane e Cristiano Mascarenhas, a espera por um filho biológico foi custosa. Depois de 10 anos de casamento eles começaram a se preocupar com a gravidez que não chegava. A partir da vivência do método natural, Cristiane descobriu que não ovulava, fez tratamento e aguardaram mais alguns anos. Depois disso, foi feita a investigação no esposo. “Foi aí que descobrimos que a dificuldade para engravidar era maior do que pensávamos”, conta Cristiane.

O casal relata que o processo de acolher que não poderiam gerar filhos biológicos foi muito doloroso. “Sempre que alguém rezava por mim, Deus falava que um dia eu engravidaria. Isso me deixava triste, pois eu conhecia a nossa realidade e os médicos descartavam qualquer chance disso acontecer”, conta.

Sem muita expectativa, entraram na fila de adoção em 2000. Somente em 2005, após receberem uma confirmação na Palavra de Deus, o casal se abriu para a adoção. “Descobrimos o João Pedro em um abrigo, em Sobral. Tempos atrás havíamos escolhido este nome caso tivéssemos um filho biológico”, diz. Embora estivesse disponível para eles a adoção de um bebê, o casal partilha que, em oração, Deus disse que seria uma criança mais velha. João Pedro tinha seis anos na época. “Foi preciso renunciar, por amor a Deus e ao João Pedro, os momentos da primeira infância. Nossa prioridade foi acolher a vontade de Deus”, diz o casal.

Em 2008, Cristiane e Cristiano adotaram mais uma criança: Ana Beatriz, de 8 anos. “Com a chegada da Ana Beatriz, foi possível descobrir com clareza o papel de cada um na nossa família, ser pai e ser mãe. É sempre um aprendizado de amor”.

Depois de muito sofrer, procurar tratamentos, ouvir palavras negativas dos médicos, o milagre chamado Maria Clara chega na família Mascarenhas.  Cristiane estava grávida! “Eu tinha 38 anos e um corpo maltratado pela quantidade de hormônios que tomei nas tentativas anteriores de engravidar. Mas eu disse uma vez ao Cristiano que se realmente Deus quisesse nos dar um filho biológico, ele não precisaria de óvulo nem tampouco de esperma”, relembra a mãe. 

No caso de Elizângela e Sílvio Roque, a família já é numerosa: cinco filhos. Eles contam que em 2008 conheceram uma criança na escola dos filhos que não tinha referências familiares. “A criança estava sempre ausente das atividades que envolviam famílias ou que necessitassem comprar algo. Eu e meu marido passamos a ajudá-la, sem interesse algum em adotá-la”, conta Eliz.

Na época, o casal tinha quatro filhos, mas os laços com esta nova criança foram se estreitando, então, começaram a pensar na adoção. “Em 2009, engravidei do meu quinto bebê e resolvemos aguardar um pouco.” O casal afirma que o desafio se tornava cada vez maior pois seria muito difícil acolher uma criança de cinco anos.  No mesmo ano, Eliz e Sílvio descobriram que a criança tinha um irmão de oito anos. Para eles, um grande impacto, pois a legislação vigente não permite que grupos de irmãos sejam separados nos processos de adoção.

Os pais contam que pediram que próprio Deus batesse na porta deles e lhes desse sinais concretos sobre o que fazer. Para eles, a adoção é um passo muito sério e não poderia ser uma decisão baseada apenas em sentimentos. “E Deus respondeu. Recebemos uma ligação do Tribunal de Justiça dizendo que ficaram sabendo que éramos um casal presente na vida das duas crianças, e que a escola nos tinha como referência há bastante tempo”, relata Eliz. Essa prática do TJ é comum nestes casos. A ligação, segundo Eliz, tinha a intenção de buscar possíveis pais para crianças abrigadas. “Eles queriam saber se tínhamos o interesse em adotar os garotos. Para nós, foi uma grata surpresa de Deus!”. 

O casal vive, agora, um período chamado estágio de convivência. Segundo o psicólogo Walter Gomes, este período existe para solidificar os vínculos. As crianças passam tardes com as famílias e, dependendo dos casos, pernoitam. São sempre com horários estabelecidos e previamente agendados.“O tempo de duração deste estágio varia muito. Depende da disponibilidade de agenda da família, do vínculo emocional. Um dos sinais que nos fazem perceber que é o tempo de passar para a etapa seguinte é se a criança apresenta sofrimento em ficar distante da família”, conta.

Walter ressalta que a Vara de Infância valoriza muito este período de estágio, pois se trata de uma prevenção de casos de devoluções, extremamente traumáticos para a criança.

A fase atual é a de inserção dos garotos na vida familiar e na realidade dos filhos do casal. “Vimos algo muito belo acontecer diante de nossos olhos: uma interação bela e saudável entre todas as crianças. Eles tratam-se, desde o início, como irmãos, que brincam, brigam, reconciliam-se e começam tudo de novo. Muito naturalmente.”, descreve a mãe.

A novidade na família Roque não é apenas a chegada dos dois garotos, mas uma nova vida que nasce dentro desse processo de escolha de amor. “O último presente de Deus, mais recente, foi uma nova gestação. Estou grávida de oito semanas e muito feliz por ser escolhida por Deus para esta função tão importante: a de ser mãe. Mãe adotiva, Mãe biológica, sou Mãe, simplesmente Mãe, por providência de Deus.”

Apoio à gestante

A Vara de Infância possui também um programa especial de acompanhamento de gestantes. Segundo Walter Gomes, para evitar que as mulheres recorram ao aborto, elas são acompanhadas e estimuladas a darem prosseguimento à gravidez. “Geralmente são mães que não despertaram para a maternidade, vítimas de estupro ou outras situações. Elas podem entregar os filhos, se quiserem”.

Walter afirma que 50% das mulheres desistem de entregar as crianças para a adoção e que todo o processo é feito com muita tranquilidade, deixando as mães muito à vontade para decidir o que fazer quando os filhos nascem.
www.brasiliacatolica.com.br