domingo, 18 de janeiro de 2009

A alegria de ser pobre.

Nas últimas semanas tenho refletido sobre a pobreza que sou chamada a viver. Ouso escrever hoje, mas longe da pretensão de esgotar ou fazer perceber que vivo plenamente esse doce convite de Deus.
Confesso que para mim também é difícil ser pobre. Não necessariamente pobre de pão, de dinheiro, de matéria... Mas ser pobre o bastante para perceber e acolher que nada do que imagino ter, possuir ou conquistar é, de fato, meu. Nem a vida que Deus soprou no meu peito é minha. Vida que é objeto de tantos conflitos e achismos, tantas vezes é assaltada pelo falso pensamento de que posso fazer dela o que bem entendo.
Quero partilhar hoje da alegria de ser pobre. A alegria de depender da providência. Partilhar da imensa alegria de, em meio às dores, poder contar com Deus, poder contar com os meus irmãos - especialmente aqueles que cuidam do que é meu como se fosse deles. Ter a certeza mais profunda que, mesmo na situação mais incoerente, difícil, angustiante, Ele mesmo é o meu sustento, o sustento da minha família, das pessoas que eu amo, de todo homem e mulher que existe nesse mundo.
Partilho da alegria de pertencer a Deus, Deus que é o Autor da minha vida e o dono dela. O Senhor e o Salvador. A imensa alegria de oferecer a única coisa que tenho nas mãos... Ela, a minha vida. Embora não seja minha, a tenho em minhas mãos porque o Dono me deu liberdade. Liberdade de entregá-la, liberdade de tempo, escolha, decisão. Liberdade de dizer um sim para dizer um não. Liberdade de dizer um não para viver o sim. Deus que me confere liberdade de entregar minha miséria, limitação e por isso mesmo, me ama a ponto de transformar todas as minhas feridas purulentas e fétidas em chagas gloriosas.
Deus que, na pobreza minha de não ter nada e ter tudo, eleva minha condição, meus planos, meus sonhos, meus desejos. Deus, que recebendo meu louvor - linguagem dos pobres e das almas esposas - transforma minha vida. Transforma minha família, revela - sempre que necessário- o sentido da minha existência.
Pobre é o que sou, pobre é o que desejo ser... Pobre de nada ter, mas de ter Tudo.
Eis o que tenho hoje, Senhor. Ofertas, esperança, saudade, lágrimas, conquistas, mudanças, cuidado, violência, parresia, vontade... Eis o que tenho, eis o que sou.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mistério

É preciso, entretanto, purificar.
Cuidar do meu tesouro, guardá-lo no silêncio
Porque tesouros não são exibidos sem cautela, proteção.
É preciso castidade, inocência.
Sim, o cuidado com o valioso.
Guardar no melhor lugar, no meu coração
Como fez a Virgem.
Dentro dele o acesso é meu e de quem, deveras, tem a permissão para o toque.
O conhecimento, o revelar, o velar, um prudente se lançar.
O mistério que insiste em deixar de ser,
mas que necessita da solidão para ganhar peso, forma, coragem e nunca deixar de ser o que é: Mistério.
E eles, os meus mistérios, o meu mistério, por nada e ninguém, será desvelado.
Mas em sutil atitude de entrega, amor, confiança, serão, certamente tocados e provados.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Aos meus...

Desejo um "corajoso arriscar-se"¹... Risco de se deixar amar, risco de se deixar conhecer, risco de não ser aceito ou acolhido. Desejo a mim, a eles, aos que amo, que Deus prove e comprove nossa vocação, nossos relacionamentos, nossos projetos, nossos sonhos.
Desejo muitos filmes, muitas convivências, muitas idas ao "bomba", desejo muitas Eucaristias, muitos passeios, muitas orações comunitárias. Desejo receber de vocês a vida, as lágrimas, os sustos, as decepções, as partilhas intermináveis, o bom e o ruim, as canções e letras.
Desejo amar muito! Confiar, ver vocês como são e ser vista como sou. Desejo entregar pérolas, desejo descobrir a singularidade de cada um... Desejo sair da superfície, desejo amar a Deus com tudo o que tenho e tudo o que sou. Espero que seja assim com vocês, também.
Desejo verdade, alicerces seguros. Desejo cozinhar para vocês mais vezes, visitar mais as famílias de vocês.
Desejo cuidar, amá-los mais, rezar mais, silenciar mais, esperar mais e melhor.
Desejo a morte das sementes, desejo os frutos, desejo ver, tocar, abraçar, amar, olhar. Desejo matar saudade, mesmo sabendo que ela, teimosa que é, vai nascer de novo.
Desejo viver o hoje.
Desejo dar sempre o sentido real a todas as minhas ofertas.
Desejo tantas coisas que desejei ontem, ano passado, ano retrasado. Desejo para hoje, para o ano todo, para a vida toda. Desejo desejar o desejo de Deus.
Desejo fazer feliz quem por mim é amado. Desejo dar a vida do jeito que ela é.
Vivo o sonho de fazer da melhor forma possível a minha história e a parte que me cabe em sua história.
Desejo alargar sempre mais meus espaços, não para reter ou guardar - esconder, mas para possuir o que não se possui e cuidar como se fosse meu.

"A confiança traz o amor junto de si e numa verdadeira amizade tudo pode se construir"¹

Desejo, enfim, que os meus amem até doer, amem na riqueza e na pobreza, na graça e no pecado. Desejo que descubram a cada dia o que são diante de Deus.
Que eles ouçam de quem tem propriedade para dizer.
Desejo que vivam o desejo de Deus. Só.

Feliz Ano Novo!
Shalom
=)
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[1] - Um entre mil - CD Ao meu Amigo - Comunidade Católica Shalom