quarta-feira, 25 de julho de 2012

Igreja Católica na China



Matéria publicada em junho de 2011 na Revista Brasília Católica

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Narlla Sales

Enquanto o Santo Padre pede a oração dos fieis do mundo inteiro pelos chineses, missionários arriscam a vida para anunciar o amor de Deus 

Em um cenário conturbado no qual caminha a Igreja na China, o Papa Bento XVI pede orações pelo país, pelos católicos que lá residem, pelo clero e, sobretudo, para que o diálogo entre a Santa Sé e as autoridades locais seja respeitoso e construtivo, como registrou na carta aos católicos chineses em 2007. Neste mesmo ano o pontífice instituiu o dia 24 de maio, dia dedicado à memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria, Auxílio dos Cristãos, venerada no santuário mariano de Sheshan, em Xangai, como o Dia Mundial de Oração Pela China. Este ano, em vários locais do Brasil e do mundo, a data foi marcada por orações e súplicas a Deus pela realidade do país.

A Revista Brasília Católica fez contato com uma cidadã chinesa católica, Lee JingYi, que mora na Ilha de Taiwan, situada a cerca de 200 km da costa sudeste da China. JingYi esteve em missão em alguns lugares da China e conviveu com comunidades religiosas, seminaristas e missionários que vivem no país. 
Uma das aventuras que a jovem descreve é sobre o tempo que esteve com uma freira chinesa que luta há 16 anos para salvar a vida de bebês ameaçados pela política de controle de natalidade no país. A missão dessa freira, segundo JingYi , é promover o valor da vida e a Teologia do Corpo de João Paulo II. 

Atualmente, a China possui mais de 1,3 bilhão de habitantes é o maior país da Ásia Oriental. É considerado, ainda, o país mais populoso do mundo. JingYi afirma que, por causa do rígido controle de natalidade imposto pelo governo, as mães são obrigadas, no nascimento do primeiro filho, a se submeterem a cirurgias irreversíveis para que não gerem mais filhos. “Se o casal tiver um segundo filho, os pais têm de pagar um valor altíssimo de multa, correm o risco de perder o emprego, têm as relações sociais prejudicadas e as crianças não têm os direitos civis básicos garantidos”, conta. Por este motivo, a jovem relata que muitas crianças são mortas ao nascerem.

De acordo com JingYi , sob os cuidados dessa freira, vivem cinco jovens mulheres grávidas, com idades de 21 a 32, que escaparam da perseguição do governo e até mesmo da própria família. “Algumas delas nunca tinham ouvido falar do Evangelho”, declara. 

A missionária diz que, certo dia, ao conversar com as mulheres, que sequer sabiam quem era Jesus, sobre a Teologia do Corpo, sentiu que as palavras do Santo Padre tiveram uma ação poderosa na vida delas. “Não foi nada abstrato, nem difícil. A maravilhosa revelação sobre o plano de Amor de Deus para o homem era exatamente o que elas precisavam para iniciar um encontro com Deus que é Amor.”

De acordo com pesquisas independentes, o cristianismo tem tido um rápido crescimento e, hoje, possui entre 40 milhões (3%) e 54 milhões (4%) de seguidores. Estimativas oficiais sugerem que há apenas 16 milhões de cristãos na China.

Lee JingYi teve também a oportunidade de conhecer um seminário clandestino que funcionava em uma fábrica. “Os moradores pensavam que os rapazes eram trabalhadores da fábrica, prática comum no país”, relata. Segundo ela, o proprietário era católico e se dispôs a correr o risco de abrigar mais de 30 jovens que se preparavam para o sacerdócio.

Com toda falta de estrutura e dificuldade em manter a unidade com a Igreja Universal, para JingYi, a formação dos seminaristas na China é lenta e pobre, um dos motivos que leva o Santo Padre a sempre se dispor ao diálogo com as autoridades e a apelar orações dos fieis do mundo inteiro pelo país.

“Especialmente quando vi aqueles seminaristas, tive a impressão de estar em uma prisão, mas a alegria interior e a liberdade deles em uma condição tão limitada foi, sem dúvida, o que mais me surpreendeu. Um grande desafio para mim que estava tão contaminada pelo individualismo e conforto”, conclui.