terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A vida e suas estações

Por Carlos Thiago Teixeira

A vida é feita por estações e cada estação tem uma vida. Cada estação tem um segredo de vida que se desenvolve na e para a própria vida. Não pense você que essas etapas são vividas por uma ou por outra pessoa somente: todos nós passamos pelas estações da vida.

Tudo começa em um momento mágico, um momento de explosão de Amor do bom Deus que tudo cria, a tudo dá vida e tudo que faz é perfeito. Somos Sua criação mais perfeita e mais bela. O nascimento caracteriza a primeira das estações de nossa vida e a única estação que tem definido seu início, essa é a primeira primavera. Quanta alegria reluz nos olhos daqueles que visitam uma vida que acaba de surgir. Ninguém explica. Só se vê rostos felizes, olhos brilhando, voz mole, encantamento diante do inexplicável mistério da vida. Quanta beleza na vida que nasce! É tempo de ver a vida com a simplicidade que ela tem e suspirar diante da beleza que ela oferece. É tempo no qual se enxerga com facilidade tudo o que se passa dentro do coração e o corpo e a alma parecem unidos para dizer que o ser humano é eterno. Estação das cores, da calma, da mansidão, da tranqüilidade, da beleza. Desse ponto em diante, a vida tem tudo para se desenvolver.

Chega-se então à próxima estação. Estação do calor, do crescer, do desenvolver, de correr atrás do que se quer, da determinação. O verão da vida leva a buscar tudo o que faz bem, independente das conseqüências. Aqui não se pensa muito: age-se sem parar. Apesar do sol que bate na água, a reflexão não existe. A beleza que antes era observada e admirada agora é usada para crescer, é absorvida pela vida de uma forma natural. O que antes saltava aos olhos, agora passa a ser natural e faz parte do dia-a-dia. Começa-se a perceber um cotidiano, uma repetição de atos e situações, um repetir frases e palavras: aqui está a rotina. O sol que ilumina é o mesmo sol que faz a sombra. Ao mesmo tempo em que se quer crescer a todo custo, o cansaço do caminhar faz os passos ficarem mais pesados. O calor que aquece e traz luz, é o mesmo que queima e traz a escuridão. Não há o que fazer a não ser aceitar o aconchegante calor a queimar a vida. A pele queimada denuncia o amadurecimento humano que aprende a cada dia a dar sentido à vida. Sentido esse que será duramente provado, mas não agora. Agora chega o outono.

Folhas caídas, folhas secas, galhos secos, tempo seco, árvores nuas, horizonte escuro, tempo desprovido do calor. O outono da vida traz a certeza de que a empolgação passa e com ela a alegria. A secura traz o questionamento da determinação que antes se tinha. Determinismo provado pela vida e seus desafios cotidianos, desafios aparentemente pequenos, mas que fazem uma diferença enorme. A vida parece ter se entristecido com a ausência do sol. O ativismo dá lugar à reflexão e a reflexão faz questionar “verdades absolutas” trazidas durante a vida. A certeza é provada na seca das dúvidas e dúvidas muitas vezes sem respostas. Do imediatismo à espera, que faz superar a insegurança e a incerteza. O olhar de esperança sobre a vida alarga os horizontes da visão e faz ir além do aparente porque a vida precisa seguir seu rumo. E assim ela o faz.

O contato constante com as dificuldades e a insegurança gerada pelas dúvidas são vividas no concreto e palpável da vida. O frio do inverno chega e com ele a terrível impressão de que o sol não vai voltar. A chuva arrasta a vida para caminhos que não se escolhe. Vento, nuvens, chuva, frio, solidão, dor, ausência, medo: o inverno prova a vida em si. A vontade que se tem é a de não passar por essa estação pois o sofrimento é algo que o homem tem aversão. Agora se aprende que o sofrimento faz parte da vida e não há como escapar dele. A impressão que se tem e a de estar sozinho no mundo, enfrentando a chuva fria e o vento cortante. A visão fica turva e a vida parece escapar pelas mãos. Mas, em algum momento, vê-se em meio às gotas vultos de vida e logo se descobre que ela está viva, presente. Presente na vida de outras pessoas que passam pelas mesmas estações que nós passamos. Descobre-se que sem o outro é impossível continuar. Um homem ajudando o outro, um homem ferido e marcado pela vida, ajuda outro homem caído. O movimento do amor provado na dor, movimento do amor autêntico e único proveniente da Trindade Santa.

Amor que leva novamente ao início, ao re-nascimento, ao re-começar, ao re-novar a vida. O ciclo começará novamente e a perfeita criação de Deus nunca deixa de existir. O Eterno eterniza nossa vida através das estações que escondem a beleza e a certeza de que o homem veio de Deus, vive em Deus e voltará para Deus.

(baseado no Espetáculo "Estações", da Comunidade Católica Shalom)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ir

A vontade é de fechar os olhos, apenas ir, sem medir ou calcular. Eu quero apenas ir, sem pensar tanto no que vai ser, sem o medo de não dar certo. Eu quero não me preocupar com o que ainda não é. Eu quero mesmo é descansar como a ovelha.
Ir Contigo e não resistir tanto... Ir Contigo e experimentar da paz, provar da misericórdia.
Ir Contigo e acreditar que o resto se espera, tudo se faz. Eu quero ir, Jesus, e esperar confiante a chegada da nova manhã. Ir Contigo e não me perder nos meus planos pequenos, no meu raciocínio limitado.
Não continuar sozinha, mas ir Contigo... Permitir que a Tua simplicidade me construa e a Tua surpresa me faça feliz. Porque é sempre assim. Sempre é melhor do que eu espero.
Obrigada, meu Deus, porque Tu és simples, Tua vontade é simples, Teu amor é simples, Tua providência é simples...
É Contigo que eu quero ir, porque sem Ti eu não sei andar... Sem Ti eu não sei esperar, não sei falar, não sei cantar, não sei rezar.
Obrigada pelo silêncio, pela ausência marcada de cuidado, pela escuridão que me faz ser luz.
Obrigada pela noite, só assim a manhã pode ser vivida com júbilo e verdadeiramente de forma nova.

Indo Contigo
Nada me inquieta
Ando com paz e força
Indo Contigo
Tudo se espera
Cada manhã é nova
(Martin Valverde)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

"Eis aqui meu coração: ponho-o entre Vossas mãos.

Eis meu corpo, minha vida, minha alma, meu amor, minha ternura.

Ó doce Esposo, minha Redenção...

Porque a Vós me consagrei

Que quereis fazer de mim?"

(Santa Teresa de Ávila)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Comparar-se é coisificar-se

Hoje eu pensava nas fórmulas, nas receitas, nos esquemas, nas leis... O que é importante para viver bem? Qual o segredo do cofre? A senha para encontrar a liberdade interior?
No meio em que vivo, fala-se da violência de coração que move nosso coração a decidir-se por viver a vontade de Deus. Especialmente hoje, minha razão iluminou meu coração, o cerne das minhas decisões.
Coloquei-me a pensar nos motivos que levam alguém a sofrer tanto para tomar uma decisão, dizer um sim, ou dizer um não.
Insistimos em caminhar em conformidade aos paradigmas impostos e engessados em conclusões preconceituosas e desesperadas, nossas e também dos outros. Fico triste em ver tanta gente sofrendo ao olhar o tempo que passou, olhar sem se perceber e se encontrar sob a custódia de Deus.
Não sabemos caminhar como se deve. Às vezes nem conseguimos olhar para alguém e enxergar no outro além do que ele faz e olhar o que ele é. Como é triste ver pessoas coisificando a si mesmas e aos outros. Comparar-se é coisificar-se. Se Deus me vê única e irrepetível, quem sou eu para olhar o outro a partir de uma visão global, sem especificidades? Seria ignorar a arte e o poder de Deus, que muda tudo, sem mudar seu plano.*
A violência está em viver diferente do que se viveu até hoje. A violência de coração está em permitir que Deus reforme as estruturas, os prazos e os esquemas que fizemos ou fizeram para nós. Talvez, dentro da nossa experiência, trabalhamos dia e noite para construir essas estruturas. Deveras isso é considerado por Ele! Mas é bom se colocar à disposição para questionar se sou feliz, assim? Se permito a concretização da promessa de verdadeira vida. Verdadeira vida não exime da luta, mas tem os sinais da providência, atenção e cuidado de Deus, e Ele é bom. Bom e fiel!

* Santo Agostinho

Laranjas e um all star azul!

All Star
Nando Reis

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as Índias
Mas a terra avisto em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário
Estranho é gostar tanto do seu all star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra hoje
Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu

Seu all star azul combina com meu preto de cano alto
Se o homem já pisou na lua
Como ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas pra tua voz
Parece exato
Estranho é gostar tanto do seu all star azul

PS: Engraçado... Quando eu ouço essa música, sempre me vem à mente um pé de laranjas, um elevador, um all star azul e um casal apaixonado! rs A mente nem precisa ser tão fértil!
Músicas são como livros!

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Quarenta dias...

E o convite é silenciar
É amar
É mortificar
Ofertar
É acompanhar o Amado até o calvário
Carregando minha pequena cruz
Ofertando o que é caro
Ofertando o que é importante
No limite, ir ao encontro da graça
Na ausência, encontrar a liberdade
Ser fiel e permanecer
Insistir e persistir
Orar e amar
Amar e orar

Nada querer, tudo ter... (São João da Cruz)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Em construção

Sempre que eu preciso, sempre que eu pergunto, sempre que eu paro, sempre que eu me calo eu ouço uma voz aqui dentro. Uma voz que não me diz muito, mas diz o suficiente para que a vida mude de direção. Hoje, a voz diz que não é pra eu me assustar com o fracasso, diz também pra eu não esperar tudo ficar pronto e só então me decidir. Se eu me decido, o resto vai ficando pronto... Eu vou vivendo desconstrução, vou vivendo construção. Vou ouvindo a voz da alma, vou ouvindo o anjo da guarda, vou ouvindo a Deus, vou dizendo nada, vou entrando muda e saindo calada.

"Hoje eu sei que Deus me ama muito mais que eu possa cantar. Mais além dessas palavras que o vento vai levar..."*

No canteiro de obras da vida, alguém sempre vai querer ser o mestre, ditar as medidas, o peso, a intensidade, a textura das paredes. Realmente, a obra é preciosa demais para deixá-la na mão de qualquer mestre.
Basta ser fiel à voz que grita silenciosa, não de fora, não nas coisas, não em microfones, mas aqui dentro. Voz calma, pacífica e terna. Voz do Mestre.
Não vale a pena duvidar que a vontade de Deus é manifesta de dentro para fora.
Obrigada, Senhor, porque estou apenas em construção!
Eis o mistério de Deus em minha vida... Apenas em construção!

* Deus me ama - Ziza Fernandes

Just go ahead!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Óleo diminuidor de mãos!


Quem nunca subiu numa árvore e fez xixi lá do alto que atire a primeira pedra!!!

Hoje eu me olho no espelho e dou graças a Deus! Eu cresci [nem tanto na estatura], e aprendi a ajeitar os cachos. Coloquei a foto do Bozo para partilhar com vocês a dificuldade que enfrentei quando criança. Minha querida irmã, Cristeni, fazia questão de denunciar minha semelhança com este personagem de nossa infância. Especialmente quando dormíamos até mais tarde. Os cachos acordavam [acordam] sem forma, confusos, nervosos. Era um emaranhado só!
Hoje enquanto rezava o terço, me lembrava muito das coisas que aprontei quando criança, inclusive o do xixi no alto da árvore. rs [Que coisa interessante para ser lembrada durante a oração do terço (!)] Foi um flashback engraçado! Minha parceira das brincadeiras era a minha irmã. Com ela não tinha problema. Eu sempre botava pilha e ela, sempre com medo, cedia aos meus argumentos e pressões inquestionáveis!
"Não acredito! Larga de ser mole, vai ser legal!"
Somos moças... Só que nossas diversões não eram sempre femininas. Me lembro de uma vez que estávamos brincando de Jaspion e Jiraya. Ela, o Jaspion; eu, o Jiraya. As espadas eram cabos de vassoura. Na minha cabeça não tinha graça... Queria algo mais real! Como sempre, querendo ousar, sugeri que nossas espadas ficassem mais sofisticadas. "Que tal os espetos de churrasco do papai!?" - Graças a Deus, ela não cedeu ao meu apelo. Talvez eu não estivesse contando a história hoje, ou trouxesse sequelas de idéia tão brilhante!

Meu sonho era uma piscina cheia de gelatina de morango e uma casa de doces, igual a da bruxa da estória de João e Maria [claro, sem a bruxa!].
A verdade é que eu vivi muita coisa com ela, minha irmã mais velha, mais responsável, mais séria, mais medrosa, mais organizada e prudente. Minha alegria era quando saíamos com a mesma roupa, ganhávamos os mesmos presentes. Eu sempre conseguia estragar os meus e ela acabava dividindo os dela comigo.
Fizemos muitos exercícios de imaginação juntas!
Um que vale a pena ser lembrado é o do sábado ensolarado, dia em que resolvemos pegar o óleo mineral que a mamãe guardava no quarto e usar como bronzeador. Nós não tínhamos certeza se estávamos agindo certo em utilizar de nossa autonomia para pegar o óleo que a mamãe usava para qualquer coisa, menos para se bronzear.
Enquanto o sol queimava nossa pele, a Maia deu um grito: “Minha mão está diminuindo!!!
Foi o óleo!!! Olha a sua, aí. Vê se não está diminuindo também!”
Eu, com toda a imaginação e intensidade que ela incentivara: "Realmente! Meu Deus. Vamos ficar sem mão!"
“É o óleo”, disse ela. "Tenho certeza!"
As duas correram desesperadas para o chuveiro. O óleo diminuidor de mãos precisava ser removido, afinal, estávamos totalmente cheias dele, no corpo todo. Era nosso bronzeador.
"Eu nunca mais vou pegar o óleo, escondido."
"É mesmo, né? A gente quase ficou sem mão."

Dedico este post à minha querida irmã! Hoje continuamos água e óleo. Ela gosta de cerveja e eu de vinho tinto, ela gosta da Cláudia Leite e eu prefiro Tom Jobim, ela nasceu para cuidar das pessoas, manusear agulhas e eu para colocar pessoas em letras. Ela não perde um jogo do Flamengo, eu descobri quem era Obina um dia desses...

Só tenho a agradecer a Deus por ter uma irmã. Alguém tão diferente e tão igual.
Se não fosse ela, talvez hoje eu não tivesse mais as mãos.
Amo muito, bem do profundo e com fundura sem igual! rs

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Arvoreando

"Livre de toda a maldade

Essa tal de amizade pra mim é raiz

Que deixa marcas no solo

É a beleza do colo, do ombro e do sim

Necessidade da terra

Presença essencial para a vida

A sua maneira de ser para mim

Já poda o que há de ruim

A minha vontade é de ser pra você

Feito sombra, descanso sem fim

E se algum dia esquecer de mim

Só se lembre que eu tenho raiz

Só se lembre que estou por aqui"

Arvoreando - Maninho

É sempre divino permitir que minhas raízes alcancem o terreno do outro. Amizades que descartam os rótulos, pessoas enraizam e se deixam enraizar.

Quem tem amigos sempre tem sombra para uma paradinha antes de continuar o caminho.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Esperança

Flores podem nascer em pedras
Água pode brotar no deserto
Folhas podem voar no verão
Poeira pode se levantar no inverno
Mudos voltam a falar
Surdos a ouvir
Paratíticos podem voltar a andar
Velhos podem ser jovens
Jovens podem ser santos
Vasos podem guardar tesouros...

Podemos sonhar novamente!
Deus é a Esperança que salva vidas
do risco constante de escolher
pelo tanto faz...

Pra mim só serve se for de Deus, da parte de Deus,
construído por Deus, feito de Deus e para Deus.

Vamos em frente, se não ouso, não conheço;
se não conheço, não amo; se não amo, não posso dar a vida...!