quarta-feira, 22 de outubro de 2008


Hoje o assunto é cuidado, espera, providência, compromisso. Hoje posso ser mais clara nas letras. Hoje posso nomear as benditas letras. O meu assunto tem nome: É Camilo.
Hoje posso gritar para o mundo todo ouvir. Gritar o quê? Que Deus é Fiel... Não como um jargão que se escreve em outdoors, pontos de ônibus, guardanapos ou bloco de anotações, ou mesmo algo que se diga para convencer algum coração sem a experiência de se colocar inteiro e disponível a essa fidelidade. É o grito de uma moça que experimenta da fidelidade de Deus, do Amor paciente, compassivo e tolerante de Deus.
Um caminho difícil, educador, cheio de alegria, bom humor, desafios... Sim, um caminho longo. Pouco mais de 300 dias de espera consciente. Nos 300, eu observei, mapeei alguns gestos, conheci, me dei a conhecer... Encantei e fui cativada, me doei e recebi muito mais do que esperava. Confiei, desconfiei. Aproximei-me, fugi, corri, não me cansei, não desisti... (chorei muito, rs). Apaixonei-me (!) Então, foi-me revelada, silenciosamente, uma figura singular. Especialmente especial em todos os sentidos. Um rapaz diferente de todos... Diferente de mim, mas ao mesmo tempo, tão igual. Um filho da Virgem. Tão belo de longe, mas havia sempre a inquietude da necessidade de tê-lo mais perto, mais ainda e mais um pouco. Não ao lado ou próximo a mim, mas como é hoje, do lado de dentro.
Abro um parêntesis para fazer menção às minhas partilhas sobre o tal singular com o Padre Eduardo, minhas dificuldades em compreender o que as palavras mudas, o olhar falante e um elo, que superava toda e qualquer incoerência, A Vontade de Deus.
E eu encontrei consolo, refúgio. Eu encontrei o colo da Virgem Maria, que de forma particular, desde o início, na figura da Virgem da Ternura, literalmente, nos abraçou. Abraçou a nossa causa como aquela que está disposta a antecipar as horas e atrasar todos os relógios do mundo para que seus filhos, Narlla e Camilo, segurassem a onda e vivessem a vontade de Deus. Nossa Senhora do Silêncio, que mesmo nas lutas sangrentas que eu tinha com a minha vontade, não desistiu de me amar e me formar, ensinando que sempre, sempre, a Vontade de Deus é o melhor lugar, o tempo dEle é o oportuno, e por mais de 300 dias, o silêncio, a espera e a oração, eram, de fato, o lugar mais seguro. O terreno mais fértil para "segurar a onda" e as ondas que viriam.
Foi aí o confronto arrojado das marcas que o pecado deixou em mim com a esperança e chamado a viver e lutar em um caminho novo.
A Senhora da Paz, que no dia 8 de julho, quando ele ligou para dividir comigo a notícia de que partiria em missão, pela Igreja, como Shalom, para a Inglaterra – ficar lá por 2 anos – me conduziu ao coração de Jesus. Levou-me para lá porque com a minha inteligência e minhas pernas curtas eu não chegaria nem na esquina. Foi a Senhora da Paz que me levou à Paz. De julho até hoje... Meses se passaram, os fatos, aparentemente, tornaram-se mais incoerentes ainda. Deus, por sua vez, não. Deus, sempre coerente e constante. Sempre justo, diante da minha infidelidade e imaturidade. Minha cegueira e questionamentos. Hoje eu olho para trás e agradeço a Deus por tudo que disse a Ele, todas as vezes que quis fugir, mudar de cidade (rs), correr pra longe, longe de mim, longe dos meus formadores – que têm papel fundamental nessa história toda. Nossa liberdade, a minha e a de Deus... Como ela cresceu – e como ela vai crescer!
Então, um belo dia, Deus me deu uma graça especial. O Amor é a renúncia dos bens pequenos por um Bem Maior. O amor é livre, liberta, acredita e me conduz, sem hipocrisia e falsa modéstia, ao último lugar. Primeiro Deus, depois a humanidade, depois... Feliz última, feliz terceira, feliz Narlla.
A Virgem da Paz à frente, com o relógio na mão e com as graças, também.
O tempo passou... Eu experimentei, inexplicavelmente, junto com ele, que o que é de Deus não passa em 300 dias, em 2 anos, o que é de Deus fica. Simples, Íntegro e Coerente. Deus é assim... Não deixa nenhuma obra inacabada, nenhuma semente sem cuidado, nenhuma cruz sem ressurreição. Deus nos marca todos os dias com Sua perfeição, porque, sabendo que somos os piores, os vasos de barro, nos dá a coragem dos que deram a vida por Ele para alcançarmos o céu.
E nós somos felizes, felizes terceiros, felizes missionários, felizes namorados.
E a Obra de Deus está apenas começando!

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Shalom!
"A medida da espera será a medida da alegria" - Maria Emmir Oquendo Nogueira

Que maravilha! Papai não é perfeito!!!

Maria Emmir Oquendo Nogueira
Comunidade Católica Shalom

Dentre as frases mas famosas de nossa infância, você e eu, com certeza, nos lembramos de algo como: "Se você for bonzinho, Papai do Céu vai ficar feliz!"; "Olha só! O anjinho da guarda está chorando! Você foi mau com seu irmãozinho! Que coisa feia!" Este tipo de frase, repetido à exaustão durante nossa infância, pode ter tido, pelo menos, três efeitos devastadores.O primeiro é a impressão de que Deus só nos ama se formos perfeitos e se fizermos tudo de forma perfeita. Como sabemos, isto é a mais redonda mentira. O segundo, é a noção de que só seremos amados se formos perfeitos. Isso, infelizmente, é uma tendência de nossa mentalidade egoísta e, portanto, não deixa de tornar-se, na prática, verdadeiro. O terceiro efeito, muito mais sutil que os dois primeiros – e muito mais avassalador do ponto de vista do relacionamento familiar e humano – é o de acreditarmos que só é digno do nosso amor quem é nada mais nada menos que... perfeito!Cuidado! Não chegue rápido demais à conclusão de que, então, só Deus é digno de amor! Ao ler "perfeito", leia "como eu quero que a pessoa seja". Isso, naturalmente, exclui Deus, por três razões: primeiro porque, no amor verdadeiro, aquele que é Deus, toda pessoa é digna de amor. Aquela que não é perfeita, no entanto, é digna de um amor todo especial. Segundo, porque se só sei amar quem é como eu quero, isso exclui Deus, que não é como eu quero, mas é inteira e livremente quem Ele é. Terceiro, porque se estou pronto a amar quem é como eu quero que seja, então Deus também está de fora, pois é a mim mesmo que amo, não ao outro e, portanto, não a Deus.
O amor intolerante, orgulhoso, que exige dos outros a perfeição, não passa de imaturidade espiritual e, portanto, humana. Espiritual porque não entendeu ainda que o amor exige renúncia e vem de mãos dadas com a humildade e a tolerância, para que possa tudo crer, tudo suportar e tudo esperar, inclusive, o nada esperar, o nada exigir do outro. Este "amor" ou forma de relacionar-se é, ainda, imaturidade humana. É o amor do adolescente, que exige que o outro seja perfeito, seja como ele quer e espera que ele seja. À menor decepção, o outro é riscado do mapa dos seus relacionamentos. Seus critérios rígidos de julgamento e crítica não deixam passar o menor vestígio do que ele considere imperfeição. Todos têm de ver as coisas como ele, pensar como ele, agir como ele agiria, pensar como ele pensa, querer como ele quer, seguir o seu método infalível, observar suas regras salvadoras. Quem não for uma projeção da fantasia que faz sobre si mesmo, em sua onipotência orgulhosa e, por conseguinte, cega, não é digno do seu apreço, de sua admiração, do seu assim chamado amor ou amizade.Os relacionamentos familiares e comunitários tendem a repetir ao infinito este comportamento e mentalidade adolescentes. Irmão, irmã, marido, mulher, pai, mãe, sogro e sogra, cunhados e primos, só são dignos do meu amor, admiração e amizade se forem como quero que sejam. Se forem a encarnação dos meus conceitos e desejos, se preencherem minhas carências de minha própria perfeição, então são dignos de mim, de minha companhia, de minha camaradagem e amizade. Podem contar comigo. Porém, se não forem o que exijo, espero, fantasio e, egoisticamente, desejo que sejam, então, adeus! Vai o marido para um lado e a mulher para o outro, os irmãos, primos e cunhados se mordem e esfolam, pais e filhos desistem uns dos outros, desanimados, idosos inadequados são peremptoriamente abandonados.
A maturidade espiritual e humana, aquela autêntica, que vem do amor, começará a desabrochar quando eu puder dizer: "Ele é diferente de mim. Não pensa como eu penso nem como acho que deveria pensar, não vê o mundo e as pessoas como eu creio que deveria ver, não tem as reações que eu teria ou que acho que ele deveria ter. Que maravilha! Ele não é perfeito! Posso amá-lo! Posso deixar de amar a mim mesmo para amá-lo! Que oportunidade fantástica! Tenho a chance de acolher meu irmão como Jesus o acolhe, como Ele me acolhe: porque sou pecador, porque não ajo sempre como ele agiria, porque não penso sempre como ele pensaria, porque não sou perfeito! Ah! Liberdade das liberdades! Posso, finalmente, amar! Encontrei, finalmente, motivos para amar meu irmão: Ele não é perfeito! Ah! Perfeita liberdade que vem tão somente de Deus!"Ao ler a vida de santos recentes, como Santa Teresinha, como Giana Beretta Molla, que tanto prezaram a vida de família e os relacionamentos familiares, fico a me perguntar em que ponto de nossa história perdemos o sentido do verdadeiro amor, aquele que é vivido em primeiro lugar na família. Aquele amor que preza e valoriza o sacrifício, a renúncia discreta e escondida, o exigir de si mesmo e não do outro, o dar espaço para o outro e, para isso, perder seu próprio espaço, o aceitar desaparecer para que o outro apareça e entender que, no amor encontramos toda alegria. Onde foram parar as virtudes? Onde está este elo perdido?
Não me sinto capaz de grandes análises. Além disso, não há espaço nem tempo. Sei onde encontrar o elo perdido e como, a partir da família, re-estabelecer ligações eternas. É urgente cavar no Evangelho e na vida dos santos o elo perdido do amor que é paciente e bom, que se alegra com a verdade do amar, com a justiça do sacrifício, com a descrição do escondimento, o Evangelho aplicado à família! Não somente aos monges, não somente aos celibatários, mas às famílias. Famílias que vivam e ensinem a viver a tolerância, a humildade, o tudo suportar, o nada exigir do outro, a acolhida do diferente, morrer para que o outro tenha vida. Famílias-escola de virtudes, de caridade, de maturidade, de fortaleza.
Um dia, quem sabe, voltaremos a ouvir frases como: "Shhh! O papai está dormindo, desliga o teu som!"; "Perdoe a mamãe, ela está preocupada hoje"; "Sei que ele está errado, exatamente por isso precisa do teu perdão. Se estivesse certo, não precisaria, não é verdade?"; "Perdoe, filhinho! Perdão, a gente não merece, a gente recisa..."; "Meu bem, precisamos deixar de trabalhar tanto para ficar mais com as crianças. Não importa se ganhemos menos. Teremos como dar-lhes mais!"; "Que tal a gente congelar este prato para quando o irmãozinho chegar de viagem? Ele é louco por peixe!"; "Tenha paciência, não sei se um dia seu pai vai mudar, mas o seu amor por ele pode mudar tudo".
Neste dia bendito, quem sabe digamos frases como: "O Papai do Céu vai te amar mesmo se você não for bonzinho, mas, por amor a Ele, que tal não bater mais no irmãozinho?"; "O anjinho da guarda viu que você errou e já está vindo correndo te ajudar!"; "Não é maravilhoso que seu pai pense diferente de nós? Temos uma oportunidade imperdível de amá-lo e nos abrirmos para acolhê-lo!"; "Sei que você não gosta de fazer isso, filhinho, mas se você o fizer por amor a Deus e à sua irmãzinha você terá um tesouro no céu. Você aceita o desafio do sacrifício?"
A exigência de perfeição do outro, a intolerância para com o imperfeito e o diferente de nós são, sem dúvida, chagas provocadas pelo egoísmo que tem início na família. Geram eternos adolescentes a baterem o pé pelo mundo afora, tristemente frustrados consigo e com os outros, ridiculamente exigentes da perfeição alheia. No livro e curso "Tecendo o Fio de Ouro" dedicamos toda a segunda parte a este fenômeno que é, sem dúvida, um dos males mais sutis da cultura ocidental hodierna. É espantoso verificar como as pessoas reagem muito mais forte e negativamente ao fato de não serem deuses, de não serem perfeitas, que a grandes dores do seu passado. As dores servem de desculpa para suas eventuais imperfeições, mas seus limites, necessidades e fraquezas que, admitidos e acolhidos, levariam à humildade, tolerância e misericórdia, são, na maioria das vezes, rechaçados, pois são vistos como prova de que não são dignos de serem amados. A reação inicial dos que fizeram o curso foi tão forte que fizemos uma segunda edição mais esclarecedora e publicamos um livro humorístico, "Joaquim e Sua Padiola", na tentativa de levar a todos a entendermos que quando somos fracos, então é que somos fortes e quando aceitamos ser fracos, então teremos aberto o caminho para a humildade, tolerância e caridade, para o amor gratuito, fruto de uma libertadora decisão de amar o não amável, o não aceitável, como renúncia livre e amorosa, como exercício maior de amor a Jesus, nosso Esposo.
Na família – quem diria – esconde-se o segredo do amor esponsal a Jesus oculto e revelado em cada homem imperfeito!

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www.comshalom.org

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Mãos Dadas

Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Seasons of love

Five hundred twenty-five thousand
Six hundred minutes
Five hundred twenty-five thousand
Moments so dear
Five hundred twenty-five thousand
Six hundred minutes
How do you measure
Measure a year?
In daylights - in sunsets
In midnights - in cups of coffee
In inches - in miles
In laughter - in strife

In - five hundred twenty-five thousand
Six hundred minutes
How do you measure
A year in the life?

How about love?
Measure in love
Seasons of love

Five hundred twenty-five thousand
Six hundred minutes
Five hundred twenty-five thousand
Journeys to plan
Five hundred twenty-five thousand
Six hundred minutes
How do you measure the life
Of a woman or a man?

In truths that she learned
Or in times that he cried
In bridges he burned
Or the way that she died

It's time now - to sing out
Tho' the story never ends
Let's celebrate
Remember a year
In the life of friends
Remember the love
Measure in love

Measure your life in love
Seasons of love
(Rent)
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domingo, 12 de outubro de 2008

A Senhora

Que tanto me ensina
Me acompanha e me faz melhor
A Senhora que me ensina a ser mulher
A Virgem que leva meu coração à oração
Ela mesma, que gerou o Senhor da minha salvação
A Senhora da Conceição Aparecida
Aquela que me faz mais gente
Quem coloca ternura em meu olhar
A Virgem Aparecida do Silêncio
Silêncio tão doído, tão salvador, tão fecundo
Ela que me ensina a escovar os dentes
A dançar, a me olhar no espelho
A Virgem da Castidade que me ensina a viver, a vestir, a olhar, a provar...
Belíssima Senhora
Que me ensina a amar com amor de mãe
Que fecunda a maternidade que Deus colocou em mim
A Imaculada Conceição
Que gera em Seu ventre a minha vida
Minha história, nossa história
Ela... A Mulher que me ensina a contemplar na ação
A Virgem Prudente que me ajuda a planejar e executar em Deus
Obrigada, Mãe...
Obrigada pelo espaço que me ofereces dentro do Teu coração
Do Teu ventre, puro e sem mácula
Obrigada, Mãe, por ser minha e nossa advogada
Obrigada por me ajudar a viver a vontade e o sonho de Teu Filho
Aquele que merece todo amor do mundo

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Decisão

É viver de acordo com o Teu desejo
É acolher como o Teu coração
É viver a loucura da cruz e fazer dessa a minha alegria
Amar é desejar consumir minha juventude, minha vida
É renunciar as migalhas pelo banquete
Se o Amor é minha lei, nada mais ou menos que amor traduzirão
minhas ações.
Eu amo, por isso eu desejo, eu quero, eu vou.
Eu amo, por isso a coragem, a renúncia e a disposição.
Eu amo, por isso as lágrimas, o desejo, a transparência.
Se não fosse firme, certamente, não faria diferença.
Eu amo, por isso sou eu mesma quem está dizendo, vivendo e arriscando.
Vamos abrir os olhos: O amor exige doação, pedaços arrancados, uvas pisadas, derrota dos valentes que se levantam dentro de mim mesma. O amor exige abaixar-se e contemplar a própria miséria diante de um Deus que é infinitamente, insuperavelmente maior e é Amor. Desacelerar para aguardar o meu tempo e o tempo do outro. Amar é esperar quando se pode ir. É partir quando se pode ficar. Amar é silenciar quando se tem resposta. É partilhar quando é mais fácil guardar para si. É registrar e aguardar o momento oportuno.
É acolher, cuidar e regar uma semente ao invés de optar por uma árvore pronta.

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Mais uma vez...
Obrigada, Senhor. É isso mesmo.
=)