sexta-feira, 24 de abril de 2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Eles escolheram o amor


Estávamos nós, eu, alguns colegas e o Matusael, no horário do almoço conversando. De repente, a conversa, na fila do caixa, foi a vida de Santa Gianna Beretta Molla. Partilhava com eles um pouco do que sei da vida dela e o testemunho que ela é para nós, especialmente mulheres. Gianna que foi mãe de 4 filhos, esposa de Pietro Molla, médica e, sobretudo, filha de Deus, alma esposa.

Impressionou-me o fato de nenhum dos que estavam na conversa conhecer a santa. Para mim, no entanto, é um sinal muito especial e concreto da fidelidade de Deus, especialmente quando há disposição em se formar uma família santa, aberta à vida, fecunda, participante da vida de Deus.

"Quero formar uma família verdadeiramente cristã; um pequeno cenáculo onde
o Senhor reine nos nossos corações, ilumine as nossas decisões e guie os nossos
programas". (Santa Gianna)
Uma santa casada, que, provavelmente tinha que acordar mais cedo que todos da casa, para rezar, preparar o café das crianças e equilibrar o lar para que o dia começasse. Provavelmente Santa Giana e Pietro Molla viveram desafios exigências que, humanamente, seriam inconcebíveis ao olhar preguiçoso e egoísta do mundo de hoje. Uma santidade que hoje podemos tocar, desejar e viver.

Para resumir e deixar vocês com vontade de conhecer mais sobre a vida dessa família... Na quarta gravidez de Gianna, um fibroma no útero a colocou diante de duas possibilidades: A vida dela e a vida do bebê. Sem hesitar, Santa Gianna optou pela vida da filha, Gianna Emanuela.

Onde quero chegar? Naquele dia do almoço, algumas horas depois, a esposa do Matusael fez um exame que diagnosticou má formação fetal. A notícia que tivemos foi que, se o neném nascesse, nasceria com alguma síndrome ou doença grave.

Respostas rápidas e impensadas? Não. Eles, mesmo na dor, se decidiram por amar e amar mais ainda o filho que esperavam.

Numa hora dessas o que a gente diz? Questionei-me sobre o que dizer a ele, que é meu colega mais próximo. A única coisa que eu soube dizer foi que Deus é Fiel e a Virgem Maria, juntamente com Santa Gianna, abraçariam aquela causa.

As sugestões de algumas pessoas eu pude acompanhar: "2 meses de gravidez? Poxa... Se fosse antes dava até pra tirar." E outras que não são, sequer, dignas de serem mencionadas.

Eu só sei que doeu em mim... Não faço idéia do que se passa na cabeça de um casal que recebe um diagnóstico dessa natureza para um filho. Este, de modo especial, o primogênito. Pode ser que não chegue a nascer, chorar, abrir os olhinhos.

Doeu em mim e foi assim que eu levei, junto com o Matusael e a Jane, a família deles, os amigos deles, e todas as pessoas que se uniram em oração, para Deus. E Deus, tão compassivo e apaixonado por nós, acolheu a esperança, a dor e a decisão desse casal.

Em exatos 7 dias, a situação foi revertida. Não me pergunte como... Nem os médicos souberam explicar, mas o bebê está completamente saudável e se desenvolve normalmente. O céu abraçou aquela causa...

Para eles, foram 7 dias. Deus quis em 7 dias criar e recriar a história deles.

Enfim... Quero aqui manifestar minha alegria por contemplar a santidade do casal Gianna e Pietro Molla se repetindo na vida de tantos outros. Casais que, com violência, muito amor e abandono em Deus, decidem-se um pelo outro, pelos filhos, pela vida, pela cruz, pela ressurreição.

A partir de respostas como essas cresce em mim a disposição e a decisão por viver o que Deus espera, propõe e deseja para a minha história.

Bendito seja Deus por confiar a nós, seres tão limitados, a participação e adesão ao milagre da vida...
Deus abençoe a todos!

Shalom



Ser na Igreja e no mundo sinal de Amor
Sinal de fecundidade e testemunhar
com fidelidade e alegria o dom da vida
E abraçar as exigências e bênçãos
que
o amor quiser nos dar.
Ser na Comunidade sinal de amor
Sinal de fidelidade e transbordar em total
entrega aos irmãos e a Igreja
E abraçar as exigências e bênçãos que
o amor quiser nos dar.
Eu e minha casa serviremos o Senhor
Eu e minha família testemunharemos o amor
(Cristiano Pinheiro e Fernando Martins - Comunidade Católica Shalom)

domingo, 12 de abril de 2009

Verdadeiramente, Ele ressuscitou! Aleluia!

Vi Cristo Ressuscitado
o túmulo abandonado
os anjos da cor do sol
dobrado ao chão o lençol...¹


Contemplar este mistério me faz eleger, mais uma vez, o essencial, o profundo, a parada, o movimento. Provar da Ressurreição quebra a insistência tentadora de permanecer no escuro e no silêncio do sepulcro, ou mesmo de achar que Deus ali ficou. Porque Cristo Ressuscitou e está no meio de nós. Aleluia!
Viver a páscoa me (re)lembra o processo que acontece antes que ela mesma aconteça.
A alegria de pertencer a Deus, meu Amado, meu Esposo, meu Rei. O Glorioso que experimenta da morte para ensinar-me o modo único e perfeito de amar.

"Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amo..."²


E Ele amou assim... Morrendo para dar vida. Cruz e Ressurreição...
Cruz que, além da salvação e do resgate, me convida a levar uma Mãe para casa. Uma mãe que prova da experiência do abandono e faz toda a humanidade perceber o amor com que Deus ama o mundo.
Uma mãe que, embora em gritos silenciosos e entre as lágrimas desfazedoras de nós, ensina que a experiência do amor passa pela morte. Morte que é vencida por este mesmo amor...
Cruz que orna minha vida para celebrar as bodas do Cordeiro.
Ressurreição tão concreta e atemporal que me ensina que a verdadeira paz, o Shalom, não se resume em uma explosão de alegria, bem estar, ausência de guerras ou conflitos, cantos e festa, simplesmente; mas no milagre de transformar o que é morte em vida; o infértil no fecundo; o brotar das flores nas rochas, fazer novas todas as coisas. Uma cruz em ressurreição.
Por hoje, minha gratidão a Deus se resume na experiência do amor. Amor que, aliado à Cruz, ganha novo sentido e tem a Ressurreição por esperança, desejo saciado pela generosidade e amor do Senhor. Gratidão por ter a minha vida recriada por Suas chagas.
Ele ressuscitou e isso basta. Só Deus basta...³

Feliz Páscoa!
Shalom

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[1] Sequência Pascal
[2] Jo 15, 12
[3] Santa Teresa de Jesus



quinta-feira, 2 de abril de 2009

Pergunte e não responderemos

Nem sempre a resposta está pronta. Há uma beleza na dúvida que vale à pena de ser apreciada. Forjar a resposta antes do tempo é a mesma coisa que colher frutos verdes... Demora na dúvida... E descubra a sabedoria que insiste em se esconder na ausência de palavras.A outra face da dúvida... Responder perguntas é fácil. Difícil é ensinar a conviver com as dúvidas, forjar a vida a partir das incertezas, das inconclusões e reticências, permitindo que o mistério sobreviva às constantes invasões da racionalidade, no horizonte de tantas realidades que não são esdobráveis, possíveis de serem dissecadas.Viver pra responder, cansa.
Há muito ando lutando para abandonar esse espírito de onipotência que tomou conta de nós. Sentimo-nos na obrigação de dar respostas para tudo. Não sabemos dizer que não sabemos, mas insistimos em falar de coisas que ainda nem acreditamos, só para não termos que enfrentar o desconcerto do silêncio. Falamos porque não suportamos a ausência de respostas. Talvez seja por isso que tantas pessoas têm buscado as religiões de respostas simples. Por que sofremos? Por que pessoas boas sofrem coisas ruins? Perguntas que são constantes na vida humana, sobretudo no momento em que a tragédia nos abate, o sofrimento nos visita. Torna-se muito simples justificar o sofrimento como forma de pagamento por vidas passadas, processos de purificação que expiam erros cometidos por outros. Compreensões absolutamente simplistas, redutoras, e portanto, resposta fácil.A dor gera perguntas. A alegria, nem sempre. A religião é um recurso humano que nos ajuda a conviver com as questões mais fundamentais que são próprias da nossa condição. Ela responde, mas nem sempre essa resposta pode ser formulada através de palavras. Isto porque a religião é acontecimento da vida inteira, é processual, se dá aos poucos.Jesus quis ensinar aos seus discípulos essa sabedoria. Não foram poucas as vezes em que eles lhes pediam explicações e respostas fáceis. Jesus nunca caiu nessa armadilha. Ao invés de entregar-lhes respostas prontas, Ele lhes ensinava a conviver com a dúvida criativa.Também sua mãe aprendeu isso com ele. Guardava tudo no seu coração, porque sabia que a experiência do distanciamento é uma excelente forma de conhecimento.Há fatos que se dão no agora da vida e que só poderão ser entendidos depois de passado um determinado tempo... O fardo da prepotência de saber tudo... Nem sempre a dúvida do momento possui resposta. Há que se ter uma paciência de saber fazer essa leitura. Conviver com a dúvida é uma forma interessante de construir respostas. Você já deve ter experimentado concretamente na sua vida essa premissa. O sofrimento desta hora gera ensinamentos que só poderão ser recolhidos amanhã. Nisso consiste a beleza da religião: ajudar a conviver com a dúvida, nutrir a esperança que não nos deixa esmorecer, preparar o coração para os tempos reservados para o silêncio da existência.Durante muito tempo os padres e religiosos tiveram que carregar o fardo da onipotência. Para tudo eles teriam que ter respostas. Falavam até de coisas que não acreditavam. Correram o risco das receitas mágicas, das frases prontas e do amor teórico.
Essa postura gerou um desgaste histórico na figura do padre. Por falar de tudo, acabou deixando de falar do essencial. Por saber tudo, acabou esquecendo que a proposta de Jesus é também uma forma de não saber, um jeito interessante de descansar no silêncio da simplicidade que não sabe dizer, porque não é adepta da pressa.Os padres ficaram sofisticados. Têm um discurso hermético que insiste em responder e interpretar todas as perguntas que lhes caem nas mãos. São capazes de chegarem num velório e repetir em alto e bom tom, receitas sobre a morte, que nem eles mesmos conhecem os ingredientes.Talvez seja por isso que estejamos tão desacreditados em nosso discurso. Pessoas simples andam recebendo mais atenção que clérigos inteligentes.
Pessoas simples são aquelas que se deixam tocar pelas perguntas, e que sabem apreciar o encanto da ausência de palavras. São capazes de deixar a noite deitar seu manto sobre a dúvida que o sol aqueceu. Seguem a fio a sabedoria bíblica que nos ensina, que debaixo do céu, há um tempo para cada coisa.Quem demora na pergunta já intui uma resposta...Eu sei que você sofre constantemente os apelos deste mundo de respostas prontas. Talvez até já tenha pensado em trocar sua religião por uma outra que lhe responda melhor seus questionamentos.
Só não esqueça que nem sempre você precisa de respostas. A vida, por vezes só é possível no silêncio do questionamento. A desolação do calvário, o profundo silêncio de Deus, a mãe que acolhe o filho morto nos braços é uma das exortações mais belas que a humanidade já pôde conhecer.Seria injusto se afirmássemos que só vivemos de silêncios de perguntas. Não, o cristianismo também tem respostas belíssimas para a vida humana. Os padres são portadores de uma boa nova que tem o poder de responder os anseios mais profundos da condição humana. Não só os espíritas possuem respostas convincentes...Nós também sabemos responder, mas por estarmos fundamentados numa antropologia que não nos permite qualquer forma de reducionismo é que defendemos que nem sempre teremos respostas para todos os problemas do mundo.Respostas não caem do céu, mas são geradas no processo histórico que o ser humano realiza. Viver é maturar, é amadurecer, é superar horizontes, acolher novas possibilidades e descobrir respostas onde não imaginávamos encontrar.Conviver com dúvidas requer maturidade, e isso não é aprendizado que se dá da noite para o dia. A dúvida de hoje pode ser a certeza de amanhã.

(Pe. FÁBIO DE MELO, scj)