quarta-feira, 28 de maio de 2008

Predileções

Sempre ouço dos mais experientes, maduros e vividos que é preciso conhecer o que é vontade minha para depois questionar a Deus o que Ele espera mim. Tudo bem que as coisas [quase sempre] acontecem de modo diferente da ordem que desejamos ou mesmo planejamos. Pelo menos para mim, não é tão fácil sistematizar coisas tão abstratas, mas que ao mesmo tempo, são bem concretas. Normalmente quem sonha muito alto, viaja muito na maionese, não se conhece tanto. Vai tirando os pés do chão e vivendo uma vida que não é sua. Literalmente, no mundo da lua.
Não quero com isso, dizer que temos que ser céticos, frios ou pouco românticos diante dos nossos sonhos, da vida, dos projetos.
O que seria de nós sem os sonhos!? Posso dizer que na minha vida, eles são o lugar onde me sinto mais humana. Vez ou outra é bom sonhar com inviabilidades [rs]. Digamos que nos faz crescer quando permitimos que Deus e os outros toquem nessa realidade. Os sonhos não são tão íntimos, impartilháveis ou individuais.
Acho saudável sonhar na companhia dos outros, sonhar, especialmente, na companhia de Deus.
Dá mais futuro!

Mas eu dizia sobre a ordem que as coisas acontecem. Me lembro sempre disso as coisas saem do meu controle: Descubro o que eu quero para descobrir o que Deus quer. Hoje, posso afirmar que nem sempre é nessa ordem. Nem sempre foi assim: Apresentar e ser apresentada.

Já descobri tanta coisa em mim e nos outros que, para falar a verdade bem verdadeira, eu não havia escolhido descobrir nem tampouco achei agradável a experiência. Não estava no meu planejamento [rs]. Os frutos do que contrariam nossos mimos e caprichos são fecundos.

É mais saudável confiar que Deus age na naturalidade das coisas. A providência acontece no percurso rotineiro e fiel do cotidiano. O extraordinário é para dar mais sabor aos acontecimentos. Quase sempre, o que não é comum me dá alguns sustos. Acho que é bem nesses momentos que sou arrancada de dentro de mim. Mas é bem no ordinário que eu me conheço. É na calma e inércia, no pacífico de cada amanhecer que me deparo com as insistências, inconstâncias e predileções. Como eu gostaria que fosse o dia de hoje?

Enfim... Sonhar é bom, planejar. Executar, então? Bom demais!
Mas como diz a música¹: "Eu tenho os meus pés no chão, mas sei que meu coração está muito além do que se possa ver."
Amadurecer, crescer, viver... Se houvesse prazos fixos, parcelas, contas, cálculos e fórmulas para a vida, certamente o Manual para comportar-se nas situações mais corriqueiras ou desafiantes estaria disponível nas livrarias.

"Quanto mais fores humano, tanto mais serás divino. Não se toca o céu sem ter os pés no chão"²

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¹ Estrangeiro Aqui - Missionário Shalom
² Padre Fábio de Melo
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Falando em música...
Uma das minhas prediletas.
Ir Kelly Patrícia - Obra Viva

terça-feira, 27 de maio de 2008

terça-feira, 20 de maio de 2008

Sem comentários

[Texto publicado no blog Textificando. Espaço do grande amigo e irmão Paulo Borges, consagrado na Comunidade de Vida Novo Ardor].

Acredito que esta tenha sido, durante algum tempo, minha resposta de toda hora, mesmo que às vezes silenciosa. Às vezes, por ignorância, outras por covardia, outras ainda para me dar a oportunidade de ouvir.
Calar pode ser uma virtude, mas pode também se tornar um grande inimigo. Digo isto por experiência própria. A palavra sugere participação, supõe uma certa preocupação com os fatos e circunstâncias de cada dia. É a reação. Porém, o comentário, protagonista destas minhas palavras de hoje, exige percepção, crítica, pensamento. Comentar não é re-descrever, reproduzir, repetir, mas analisar, repensar a realidade. No entanto, comentários não são sempre bem vindos a todos os ouvidos, e às vezes nem mesmo a quem os pronunciou.
Silenciando dou-me a oportunidade de ouvir. É preparação. Diria que esse silêncio é a melhor reação, por que respostas rápidas demais tendem ao erro. Respostas que demoram costumam ensinar mais, a quem responde e a quem é respondido.
Quero fixar a atenção nestes últimos, já que escrevendo aqui torno-me alvo de comentários. O silêncio dos ouvintes (ou leitores, se preferirem) é, por vezes, uma voz estridente que grita que todo o discurso é vão, já que ninguém o escuta. É a primeira tentação de quem fala e escreve, mas aí se apresenta a oportunidade de ser livre no que se faz, especialmente quando se fala de Deus. Não há obrigatoriedade de que seja o semeador quem realizará a colheita. Tudo é vaidade, e esperar o reconhecimento dos homens o é por excelência. O silêncio é a morada do orgulho que não quer correr o risco de ser julgado e condenado pelas palavras que seriam ditas. Por outro lado, quem fala é atacado pela vaidade, que o faz desejar o reconhecimento de quem o escuta. Dois inimigos que não podem ser vencidos pela fuga, mas apenas pela humildade, guarda e guia de quem verdadeiramente ama a Deus sobre todas as coisas.

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Que a Virgem do Silêncio nos ensine a guardar todas as coisas no coração.

Shalom!

terça-feira, 13 de maio de 2008

É de verdade?

O que é a realidade?
De acordo com o dicionário, trata-se da qualidade do que é real, verdadeiro, o que existe de fato, objetivo e certo.

No domingo me coloquei diante da televisão para... Hum... Eu ia dizer "para ficar melhor informada sobre os acontecimentos do mundo", mas a intenção não foi essa, até porquê, eu sabia que aos domingos, em horário nobre, naquela emissora não havia muita promessa de informação. Se me recordo bem, sentei lá para ficar onde a população da casa estava (rs).
Na TV passava um quadro que, segundo os comentários na sala, mostrava a realidade da vida conjugal. A historinha de domingo mostrava uma esposa inteligente, um marido bruto e insensível, filhos incompreensíveis, casa bagunçada, desordem, adultério, falta de diálogo, infelicidade, exaustão, falta de referencial... Enfim... Falta de Deus. Quiseram me convencer de que estávamos diante da TV assistindo a reprodução da realidade.
“Mas isso aí é o que acontece em 80% das casas. É a realidade.”

Fiquei a pensar em todas as situações que eu vivo, que se apresentam, que contemplo na vida de pessoas próximas ou mesmo no noticiário. Me questionei sobre o que é a realidade, o que é o ideal, os porquês que poderiam dar respostas a tantas dimensões vividas, ao mesmo tempo, em condições tão distintas e às vezes injustas.
Pensei no aborto, na família, nas escolhas que as pessoas têm feito. Logo me lembrei dos discursos retóricos de quem defende a morte, ou dos disfarces de quem omite a vida. Pensei nas desculpas esfarrapadas que eu mesma me dou para Deus ao justificar os meus nãos. Minha fuga do que é essencial e tentativa de convencer o espelho de que dá para enrolar mais um pouquinho para ser diferença na vida dos outros.

Lembrei da fala "inteligente e racional" de quem trata a vida como um embaraço ou um risco à saúde pública. Quanto desperdício de energia!
Mas o que é a realidade? Seja lá o que for, a realidade não é relativa. Não depende de quem a vê, de quem a vive. Não depende do que eu escolho. A realidade, como qualidade do que é Verdade, não é tão mutável como se pensa. Não muda de acordo com as tendências da moda ou com a cultura de cada região.

Só sei que esta não pode ser contemplada por olhos meramente humanos. Tem que ser a partir do olhar de Deus. Foi o que partilhou o Moysés¹. “Se a gente olha para o mundo com o nosso olhar, não somos capazes de ver futuro e sentido em nada. Tudo é uma loucura”, disse ele.
A nossa tendência é, muitas vezes, querer humanizar o que é divino e não o contrário, assim, nós nos esquecemos que Jesus é Deus e Homem. Inteiramente Deus, inteiramente Homem.

Nós que precisamos ser santificados, Deus já é Santo. Nós que precisamos aprender o que e sobre a vida, Deus é o Autor da Vida. Aprender de Deus, com Deus. Ele que é a fonte de toda a nossa formação, santificação e conheciment e não qualquer um que leu uma dúzia de livros e escreveu uma tese, deu entrevistas ou ganhou prêmio de revista científica.

Essa semana eu ouvi alguém falar sobre a proibição da marcha da maconha: "As pessoas têm que ser livres para se expressar". Realmente, eu concordo. Só não concordo que essa expressão, tão poética e defendida por alguns grupos, seja em apologia a uma cultura de morte. Não será a morte só de quem está marchando, mas de muitos outros.
Quem defende a liberdade de expressão independente de suas conseqüências me parece surdo e cego diante do quadro de guerra que se encontram alguns estados do país. Qual o motivo? As drogas [além da falta de tantas outras coisas, essencialmente, de Deus].
Hoje, por exemplo, saiu no jornal a notícia de que uma mãe foi assassinada a tiros na frente dos dois filhos no interior de São Paulo. Motivo: Tráfico de Drogas. Quem estava traficando? Ela? Não. Segundo informações da polícia, um sobrinho². O fato é: Não me interessa quem trafica, quem usa, quem deixa de usar, quem apóia ou desapóia. Me interessa as vidas perdidas, vidas - que ao meu ver não se classificam inocentes ou culpadas - mas vidas.
Vida dos meus irmãos, vidas dos jovens do mundo inteiro, dos pais desses jovens, vida das famílias, vidas! Vidas que talvez nem conheceram a verdadeira alegria, o sentido, os sabores e cores do existir. Vidas que, porventura nem conheceram a Jesus.

Isso que vemos hoje é a realidade? Não. Não é a realidade porque não é o plano de Deus que se concretiza. Não é real porque não é verdade.
E a culpa é de quem? Também não me interessa. Me importa fazer a diferença, hoje. Mesmo que seja dentro da minha casa, na minha rua, na minha cidade.
Me acalma e me deixa segura saber que não são os meus esforços, minha boa vontade que farão essa diferença, mas a minha adesão à Jesus Cristo, minha entrega, minha vida perdida na Vida dEle.
Realidade? O pensamento de Deus a respeito da humanidade, essa sim é a realidade a qual devemos perseguir.
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¹ Moyés Louro Azevedo - Fundador da Comunidade Católica Shalom.
² Mãe é assassinada na frente dos dois filhos - O Estado de S. Paulo (13/5/2008)
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Shalom!
;-)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sinonímia

O gosto
A cor, descolor
A decolagem
A espera
A celebração
A farofa com passas
O tempo tem sabor, tem cor, espaço
O tempo tem tempo
Tem endereço, registro geral e cadastro de pessoa física
O tempo tem nota, acorde e expressão
A fidelidade no grão
A fidelidade no fruto, na árvore
Os sinais têm gosto de pão, pão sovado, pão de queijo e café preto
As impressões têm cheiro de imprecisão, cheiro de exatidão
Letras e quilos de sentido, significado e signo
O investimento no invisível, mistério e verdade
Promessa? Não, não. Só certeza.

terça-feira, 6 de maio de 2008

A Inominável...

de Cecília Meireles

Leve... - Pluma... Surdina... Aroma... Graça...
Qualquer coisa infinita... Amor... Pureza...
Cabelo em sombra, olhar ausente,
passa como a bruma que vai na aragem presa...
Silenciosa. Imprecisa.
Etérea taça em que adormece luar... Delicadeza...
Não se diz... Não se exprime... Não se traça...
Fluido... Poesia... Névoa... Flor... Beleza...
Passa... - É um morrer de lírios...
Olhos quase fechados... Noite... Sono...
O gesto é gaze a estender-se, a alargar-se...
- E enquanto vão fugindo aos passos teus,
Visão perdida, chovem rosas e estrelas pela vida...
Silêncio! Divindade! Iniciação!

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Deus construiu - constrói - e sugeriu-me a melhor parte, e eu optei por ela. Essa não me será tirada.

:-)