terça-feira, 25 de novembro de 2014

Empoderada, não. Consciente e pobre, apenas

Fiz uma coletânea de textos que escrevi durante a gravidez.
Postarei aqui.

13 de outubro de 2014



Despedida da barriga
 Ultrasson natural com a doula Maria Rosa Mouta


O parto está chegando. Todo mundo pergunta: é pra quando? Vai ser como? Está tudo pronto?
Muito ainda está por acontecer. Mas quero tocar em um ponto, ou melhor, em um termo que, por estar no meio de pessoas que têm costumes e culturas bem diferentes dos meus, eu ouço sempre. O tal do “empoderamento feminino”. Eu sei o que as pessoas querem dizer com isso. Algumas são, de fato, marcadas por uma ideologia autossuficiente e determinista de que basta seguir alguns passos e você será a mulher mais forte da galáxia. É, eu recebi dicas do tipo receita de bolo para ser uma mulher “empoderada”, a “toda poderosa mulher maravilha que conquistou o que desejava”. E talvez, pelas minhas amigas feministas, eu seja mesmo. Mas para mim isso tem outro nome, outra tônica, outro sentido.
Li, estudei, assisti vídeos, vivi as coisas junto com meu marido, mas eu continuo eu mesma.
E respondo: Não, eu não sei como será. Não sei que dia vai ser, não sei se vai ser cesárea ou normal, se vai ser apenas vaginal ou humanizado, se vai ser na água ou na bacia, no chuveiro. Se vai dar tempo de chegar no hospital, se vai ser na ambulância, de madrugada, no fim da tarde. Não sei... Nisto consiste a prova mais real de que o poder em questão não é o meu, mas o doce e maravilhoso agir da providência divina.
Temos planos, apenas. Temos um parto planejado. Mas não temos o poder de controlar. Na verdade, vou aprendendo, a cada dia, que abandonar o controle será o grande serviço que presto a mim e à minha família. A chance de dar a Deus o reconhecimento de que, na verdade, todo poder pertence a Ele. Eu, no máximo: consciente, entregue a tudo que experimentamos nestes nove meses.
Eu, digo: nós, pobres, entregues nas mãos de Deus.
Foi Ele quem nos deu o Tomé, que providenciou o nosso encontro. Então, honrada por ser mulher, é o tempo apenas de recolher tudo e guardar no silêncio o que é tesouro.
Como disse meu marido este fim de semana: não se trata de “empoderamento feminino”, mas da graça que Deus te deu quando te fez mãe.
Então, abraço, acolho, recebo essa graça, meu Deus. Tudo é Teu.
Acredito muito que estas últimas semanas sejam as mais intensas. Pelo menos é assim que tenho vivido. As emoções estão em ebulição, meu corpo não é mais o mesmo, definitivamente. São 17kg a mais. São cabelos brilhantes, são também estrias e celulites, é o refluxo noturno, o cansaço, a falta de ar, é o não conseguir se sentar com as pernas fechadinhas, é o andar como uma pata.
É a beleza que você vê, mas às vezes eu não vejo.
São os ossos que parecem se partir, se quebrar. São as marcas de uma cruz que me ressuscita, me desperta para uma oferta que eu já ouvi falar, mas ainda não experimentei. Ele vai nascer. E nós também.
Até breve.

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